APENAS UMA PEQUENA PARCELA DAS EMPRESAS ESTÁ PREPARADA PARA A REFORMA TRIBUTÁRIA, DIZ PESQUISA

Publicado em: | Categoria: Notícia de Comércio Exterior

Apenas uma pequena parcela das empresas está preparada para a Reforma Tributária, diz pesquisa

Segundo levantamento realizado pela PwC Brasil com 116 companhias, 9% dessas empresas já concluíram suas análises sobre os impactos esperados e que tomarão forma no próximo ano com o início da reforma

Por Beatriz Kawai, Valor — São Paulo

Nove porcento das empresas concluíram suas análises sobre os impactos esperados e que tomarão forma no próximo ano com o início da Reforma Tributária. Outros 10% dizem ter concluído o processo de avaliação, mas esperam ajustes conforme as orientações da Receita Federal (notas técnicas), aponta a pesquisa elaborada pela PwC Brasil.

Das 116 companhias que participaram do estudo, 53% têm receita anual acima de R$ 1 bilhão, sendo que dez têm capital aberto no Brasil e 20 delas têm capital aberto no exterior. Entre os setores, 31% atuam na produção industrial e 27% são do setor de consumo.

Para a transição completa em 2033, as companhias terão que, a partir do próximo ano, conciliar dois sistemas tributários — o atual e o novo —, adotar outro modelo de emissão de nota fiscal e organizar-se sem os benefícios fiscais de ICMS, PIS e Cofins.

Ou seja, além dos impactos tributários, que não serão imediatos, o primeiro entrave para as empresas será a complexidade de cumprir duas legislações ao mesmo tempo. Contudo, a poucos meses de a reforma entrar em vigor, as companhias não se mostram preparadas para lidar com as mudanças.

Até agosto, quando a pesquisa foi feita, 37% das companhias estavam em estágio inicial da avaliação dos impactos e 32% se encontravam em fase avançada. Já 12% dos executivos não sabiam responder em qual fase estava ou se ao menos existia uma preparação — foram, em sua maioria, empresas de pequeno porte, com receita de até R$ 1 bilhão por ano.

Como a avaliação demanda recursos para ser realizada, sua maturidade varia, principalmente, conforme o porte do negócio: aquelas que faturam mais de R$ 5 bilhões anualmente apresentam avanços consistentes, contra as com receita de até R$ 500 milhões, majoritariamente em fases iniciais.

Hadler Martines, sócio da PwC Brasil, explica que, quanto maior o faturamento, maior a maturidade na avaliação, o que pode refletir em maior capacidade de investimento em diagnóstico, planejamento e adequação tecnológica. Já as empresas de médio porte avançam além da etapa inicial, mas ainda têm dificuldade em chegar a conclusões definitivas.

Para além da área fiscal, que será a principal impactada naturalmente, a preparação para a Reforma Tributária também envolve contabilidade e tecnologia, assim como os departamentos jurídico, comercial, de suprimentos e de logística. “A reforma é um risco às empresas, no modelo operacional e sistêmico. Aquela empresa que não se estruturou, ão vai conseguir emitir nota fiscal eletrônica em janeiro de 2026”, exemplifica, destacando que 83% dos negócios reforçaram o setor de TI (tecnologia da informação) para se adequar às novidades.

Na nova nota fiscal, as empresas terão que detalhar os tributos de cada produto e serviço, acompanhados dos códigos fiscais pré-determinados e que identificam a operação. “Será necessário demonstrar as atividades, alíquotas e possíveis reduções de alíquotas, regimes específicos e destaque dos impostos”, , comentam os advogados Alberto Zürcher e Caio Schunck, do escritório Zürcher, Caiafa, Spolidoro e Schunck.

Eles acreditam que 2026 será decisivo para o primeiro passo rumo à adaptação: “Durante os primeiros anos, terão de recolher tributos distintos sobre as mesmas operações, ainda que sem elevação efetiva de alíquota. Isso exigirá controles precisos, atualização de sistemas e treinamento de equipes contábeis e fiscais.”

Reforma operacional das empresas

Para o sócio da PwC, a reforma é muito mais ampla do que apenas uma mudança de alíquota ou de apuração fiscal. “Ela altera o modelo operacional das empresas, que deve engajar diversas áreas da companhia”, relata o executivo, ao Valor.

Ele acrescenta que umas empresas terão de correr atrás para se adequar ao novo modelo enquanto outras devem enxergar a reforma como oportunidade de reduzir a carga tributária e monetizar um crédito que hoje não conseguem.

Na prática, cada mudança gerará resultados diferentes, variando de acordo com a indústria.

A pesquisa aponta que as exportadoras devem ser favorecidas ao reduzir o resíduo tributário de suas operações. Hoje, elas arcam com os custos desses resíduos, que não podem ser abatidos.

No setor de produção industrial, o aumento da carga tributária e o impacto negativo no capital de giro são os grandes pontos de atenção. No segmento de consumo, há preocupações sobre redução da capacidade de investimento e do desempenho operacional — sinalizando maior vulnerabilidade setorial.

O agronegócio tem apreensão com custos e margens, com a elevação da carga e os prejuízos à liquidez, embora alguns apontem oportunidades em competitividade e acesso a novos mercados. Já em energia e “utilities”, as ameaças estão atreladas à incerteza generalizada, já que grande parte das companhias ainda estão analisando os impactos.


Fonte: Portal Valor Econômico